UM TEMPO PARA UM POEMA

O VESTIDO 

No armário do meu quarto escondo de tempo e traça
meu vestido estampado em fundo preto. 
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas
à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: 
eu estou no cinema e deixo que segurem a minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.

ADELIA PRADO

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